Ainda é difícil estimar o impacto da pandemia da COVID-19 a longo prazo, provavelmente o seu legado se arrastará por anos. Observa-se que metade dos pacientes, 5 em cada 10 pacientes, que desenvolvem a covid-19 apresentam manifestações clínicas persistentes e recorrentes após o quadro agudo por SARS-CoV-2, o que vem sendo chamado de “condições pós-covid”. A definição deste termo ainda está sob constante discussão na literatura médica, mas podemos defini-lo como o surgimento de manifestações clínicas após o período agudo da covid-19 que não podem ser explicadas por outras etiologias ou diagnósticos alternativos. O mecanismo que envolve a persistência desses sintomas ainda não está totalmente compreendido. O impacto destas sequelas na saúde física, psíquica, social e econômica do paciente também não está completamente elucidado. Sabe-se que qualquer pessoa acometida pela covid-19 pode desenvolver estas manifestações, as consequências são variadas e diferem de acordo com a gravidade e morbidade da doença aguda, bem como, de acordo com a idade, comorbidades e uso ou não de imunossupressores.
A Síndrome Pós-Covid caracteriza-se pela persistência de sintomas ou pelo aparecimento de novos sintomas após a recuperação inicial que vão além de 4 semanas do início do quadro clínico. Estima-se que 10 a 30% dos pacientes com infecção pelo SARS-CoV-2, de forma leve a grave, respectivamente, pode prolongar a sua convalescência. Pessoas assintomáticas também podem desenvolver a síndrome. Após a 12ª semana tem se denominado Condição pós-covid, covid crônica ou prolongada. Alguns aspectos dessa lenta recuperação guardam semelhanças com a Síndrome da Fadiga Crônica Pós Viral ou mesmo a Síndrome Pós Terapia Intensiva (SPTI) em pacientes críticos; porém parece que a Síndrome Pós-Covid é uma entidade única e mais ampla que se sobrepõem a elas e combina em muitos pacientes as complicações adquiridas durante a hospitalização (Figura 1).
Ainda é difícil dizer quais os fatores predisponentes para o desenvolvimento das consequências persistentes da COVID-19; porém, nota-se que os pacientes que sofreram da doença na sua forma grave e os que permaneceram mais tempo na UTI adquiriram sequelas em vários sistemas e são os mais afetados.
Embora seja mais comum em pacientes que foram hospitalizados, sua gravidade não tem correlação com a gravidade da doença aguda. Mesmo pacientes jovens, hígidos e com quadro agudo leve ou mesmo assintomático podem ter sintomas pós-covid ou mesmo sequelas persistentes. Porém, parece pior na população idosa com mais comorbidades e curiosamente com linfopenia persistente.
*Texto extraído do artigo escrito pelos autores: Francisco Luiz Gomide Mafra Magalhães1, Rebecca Saray Marchesini Stival2 e Amanda Flenik Kersten3
- Especialista em Clínica Médica e Medicina de Emergência pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), Diretor do Capítulo de Ensino Médico e Epidemiologia Clínica da SBCM – Regional do Paraná, Preceptor da Residência de Clínica Médica Hospital de Clínicas – UFPR e Diretor Clínico da Fisiomed – Clínica de Atendimento Multidisciplinar Pós-Covid
- Especialista em Clínica Médica – HCUFPR, Especialista em Pneumologia – HCUFPR, Mestre em medicina interna pela UFPR, Preceptora da Residência de Clínica Médica do Hospital Universitário Cajuru, Professora de Pneumologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
- Especialista em Infectologia pelo Hospital das Clínicas – USP Ribeirão Preto (FMRP), Preceptora da Infectologia do Hospital de Clínicas – UFPR, Médica Infectologista do Complexo do Hospital do Trabalhador – Paraná. Médica Infectologista da Fisiomed – Clínica de Atendimento Multidisciplinar Pós-Covid